Stories | Home | Capítulos - To the Sky
Soluço perdeu a conta de quantas horas eles ficaram voando por aí, só apreciando a presença um do outro e vendo o mundo pelos olhos de cada. Até que o rapaz sentiu sua barriga roncar, sendo acompanhada pelo ronco ainda mais alto da barriga de Banguela, e os dois decidiram voltar para a ilha.
E, enquanto passavam pela névoa que circulava a ilha, tudo o que Soluço conseguiu pensar foi relembrar o dia em que eles tinham chegado ali. Ele tinha se sentido tão confuso e nervoso, sem saber o que pensar, uma vez que tinha deixado sua família e tudo o que conhecia para trás. Por um tempo ele tinha pensado que sua estadia na ilha dos dragões iria ser curta e que logo eles retornariam para Berk, mas depois de tantas luas e depois de tudo o que tinha acontecido, Soluço percebeu que aquilo não ia acontecer, pelo menos não tão cedo. E agora... Ele não sabia se tal coisa sequer era possível.
Ele podia ter só agora aceito aquela relação, mas já fazia um bom tempo que Soluço se sentia incapaz de imaginar sua vida sem Banguela. Ou até mesmo sem a companhia de dragões.
As coisas tinham mudado, ele tinha mudado. E, em sua opinião, para o melhor. E ele tinha tudo a agradecer ao Banguela.
E, quando pensava nisso, ele se perguntava se Banguela tinha mudado também. Tudo o que Soluço tinha visto foi o dragão passar de desconfiado e hesitante para um bom amigo, e ele se sentiu um tanto desapontado em não ter aceito a ligação mais cedo, desapontado por ter perdido a chance de descobrir quem era Banguela antes da fuga de Berk...
Soluço sentiu a energia de Banguela tocar a sua, cutucando sua mente, e ele notou que as paredes que ele normalmente mantinha erguidas não estavam presentes.
“Isso não importa, Soluço.” Banguela ronronou, fazendo seu corpo inteiro vibrar enquanto suas asas batiam, fortes e poderosas. Soluço vibrou junto a ele. “O que importa é agora.”
— É... Tem razão, amigão... — Soluço sorriu, afagando a cabeça do Fúria da Noite.
Quando a névoa foi deixada para trás e a ilha voltou à vista, o rapaz sorriu. Aquele lugar já tinha se tornado um lar para ele fazia um bom tempo, mas agora que ele podia sentir o Banguela, não só fisicamente, mas em todos os outros aspectos, Soluço sentiu como se sua conexão àquela ilha tivesse se intensificado também.
Lambe-Olho e Lambe-Cauda esperavam por eles no penhasco acima da caverna que dividiam.
“Soluço! Escama da Noite!” Lambe-Olho saltitou no lugar. “Vocês voltaram finalmente!”
— Oi, Lambe-Olho- Ah! — Soluço riu quando o dragãozinho pulou em seus braços, apertando a cabeça contra seu rosto.
“Lambe-Olho estava ficando preocupado-" A mensagem que Morde-Cauda transmitia parou de repente e Soluço se surpreendeu ao sentir a energia do dragãozinho se afastando da sua, como se tivesse sido puxada para longe.
— O que foi...?
Um ribombar baixo, que parecia uma mistura entre um rosnado e um ronronar, fez o corpo de Soluço vibrar. Lambe-Olho soltou um guincho baixinho e se afastou dos braços do humano, voando a alguns centímetros de distância desse; seus olhos grandes desviaram do rapaz para o Fúria da Noite ao seu lado.
Soluço se voltou para Banguela e notou que o dragão tinha erguido a cabeça, daquele modo que fazia quando estava orgulhoso de alguma coisa. Soluço conseguia sentir a energia do dragão o envolvendo, aquelas sombras aconchegantes dando-lhe a mesma sensação de ter um braço circulando seus ombros de um modo protetor, como alguns vikings costumavam fazer com seus parceiros.
“Vocês são companheiros!” Lambe-Olho guinchou alto mais uma vez, o som e a mensagem carregada por sua energia chamando a atenção de outros dragões que estavam por perto.
Soluço corou.
— Sim, sim, somos companheiros agora, isso mesmo! — Ele disse rapidamente. — Não precisa anunciar para todo o mundo, Lambe-Olho! — A isso Banguela soltou um bufado. Soluço se voltou para o dragão novamente e Banguela o lançou um olhar. — O que?
“Todo mundo já percebeu.” Morde-Cauda arrulhou baixinho.
— Já?” Soluço piscou.
“É, dá pra sentir ao seu redor.” O pequeno Terror inclinou a cabeça para baixo, limpando em baixo da asa, como se não fosse nada demais.
— Ah... — Soluço murmurou.
“Isso é bom.” Lambe-Olho trinou e moveu a cabeça, de um modo que Soluço já reconhecia como a risada de um Terror Terrível. “A ilha toda já estava cansada de ficar ouvindo o Escama da Noite suspirando por você.”
Banguela bufou e sua energia girou de um modo que Soluço já conhecia como “envergonhado”, e ele adorou poder sentir aquilo de verdade. Ele tentou segurar uma risada e só sorriu para o dragão.
— Ah, amigão... — Ele murmurou sem saber o que dizer, se sentindo tão sem jeito quanto o Fúria da Noite. Ele afagou a bochecha do dragão, que se inclinou contra o toque.
E por um momento ele se sentiu mal, pensando em quanto tempo já tinha passado e por quanto tempo ele ansiava por ter seu amor correspondido por Soluço. E, quando isso passava por sua cabeça, Soluço também pensava em quanto tempo ele mesmo “ansiava” por uma conexão como aquela. Ele só estava se negando aceitar tal coisa.
Bem, vikings são conhecidos por sua teimosia..., Soluço racionalizou, e sorriu ao continuar pensando: E dragões são claramente tão teimosos quanto.
O som de um outro dragão se aproximando tirou Soluço de seus pensamentos e ele ficou feliz por notar que ainda tinha as paredes de sua mente bem erguidas. Ele se virou, vendo um Gronkel velho vindo em sua direção.
Soluço sentiu a energia de Banguela vibrar ao seu redor do mesmo modo como o dragão pareceu vibrar, abrindo bem os olhos e a boca, daquele modo que Soluço já sabia querer indicar animação. Ele tentou não rir novamente. Qual é? O Banguela era uma gracinha! Uma gracinha de várias toneladas, o que, de algum modo, fazia suas ações ainda mais adoráveis.
Soluço corou com aquele pensamento, mas não o rebateu.
“Defensor!” Banguela soltou um som alto, balançando a cabeça de modo animado e abrindo as asas, como um humano faria, abrindo os braços de modo espetacular. “Soluço me ouve agora!”
“É o que contam os bufados e rugidos.” Defensor bufou enquanto cambaleava até os dois e Soluço corou levemente. É claro que a notícia já tinha se espalhado pela ilha toda, os dragões pareciam ser mais fofoqueiros que vikings. “Meus parabéns, vocês dois.” O Gronkel trinou, inclinando a cabeça na direção do humano. “Fogo Gelado me disse que isso é o tipo de coisa que vocês humanos dizem para aqueles que se tornam companheiros, sim?”
Soluço se surpreendeu ao ouvir aquilo.
— É, é sim... — Então Fogo Gelado prestava mais atenção no que ele falava do que ele acreditava! — Obrigado.
“Fico muito feliz por vocês.” Defensor ergueu a cabeça de modo quase pomposo (ou o que era possível para um Gronkel parecer pomposo), demonstrando fisicamente que suas palavras eram verdadeiras. “Deve ter sido uma revelação difícil de lidar, acredito.”
— Er, talvez, um pouco... — Corou. Ele sempre sentia que seria um tanto vergonhoso admitir tal coisa. Banguela o empurrou gentilmente com o lado da cabeça e Soluço revirou os olhos, afagando-lhe as escamas escuras. “Mas é o Banguela, então...” Soluço deu de ombro, sorrindo quando Banguela soltou um som de alegria.
Sim, o Banguela era especial para ele. Desde o momento em que Soluço tinha visto o dragão pela primeira vez, lá de volta quando era ainda uma criança, ele diria que tinha sentido algo de especial sobre o Fúria da Noite.
Ele nunca esperaria que as coisas acabassem desse jeito entre os dois, mas, não podia reclamar.
Defensor soltou um arrulho baixo, que soava como o borbulhar de água quente.
“E quanto a filhotes?”
Disclaimer: A série Como Treinar o Seu Dragão e seus personagens pertencem à Dreamworks Animations, Dean DeBlois, Chris Sanders e Cressida Cowell. Essa é uma produção de fã para fã e sem fins lucrativos.
Todos os personagens aqui presentes possuem mais de 18 anos de idade.