Histórias | Início | Capítulos - To the Sky
Soluço nunca foi do tipo a observar casais por aí, ele sempre tinha outras coisas para fazer. Mas, vez ou outra, enquanto crescia, ele tinha se encontrado observando casais vikings; recém-casados, duplas em processo de cortejo, e até aqueles que ficavam lançando olhares um para o outro, sem saber quem finalmente daria o primeiro passo.
Em parte ele fazia aquilo por que era esperado que ele acabasse daquele modo algum dia, com alguém logo ao seu lado assim como Stoico tinha Valka; em parte ele fazia aquilo por que, não importava o quanto ele tentasse dizer que não se sentia assim, ele às vezes se sentia solitário.
Não só solitário em relação a “ter um parceiro romântico”, mas em geral.
E agora, bem, era um tanto impossível se sentir solitário. E não só porque a energia dos dragões estava sempre girando ao seu redor, mas simplesmente porque, diferente dos humanos, a energia dos dragões era mais direta.
Soluço tinha aprendido aquilo vivendo entre eles: enquanto humanos às vezes hesitavam ou encontravam modos diferentes de dizer algumas coisas, dragões eram criaturas diretas. É claro que cada um era cada um, mas aquilo era o comum. Soluço sempre se sentiu um tanto desastrado com as palavras, sempre falando alguma coisa que não deveria ou usando as palavras erradas, mas durante seu tempo com os dragões, ele aprendeu que algumas das coisas que ele falava sem pensar era o que os outros esperavam ouvir. Ele ainda não conseguia completamente ignorar anos de condicionamento em Berk, mas saber que os dragões, de algum modo, conseguiam o entender melhor que muitos vikings, o fazia se sentir mais confiante com suas próprias palavras.
Em relação a romance, porém, Soluço tinha ainda menos sorte que qualquer outro viking, ele sabia. E honestamente, tudo em sua vida sempre tinha sido tão diferente, que ele achava que nem devia estar surpreso que acabou encontrando romance com um dragão.
Agora, quando Soluço se encontrava observando casais, ignorando o fato de que esses eram casais de dragões, ele não fazia mais tal coisa com aquela sensação solitária, mas com uma sensação de admiração e interesse.
Alguns tipos de dragões eram diferentes, ele tinha aprendido, mas a maioria dos dragões tinham um só parceiro para a sua vida inteira.
Soluço se lembrava do que Defensor havia lhe contado, sobre como todos os dragões possuíam um Companheiro de Vida esperando por eles pelo mundo. Enquanto ele observava silenciosamente, Soluço se perguntava qual dos casais que via eram Companheiros de Vida que tinham tido a chance de se encontrar. Ele não tinha muita certeza ainda… Mas sentia que devia haver algo de diferente na conexão entre esses se comparada à conexão entre casais que não dividiam esse tipo de ligação “espiritual”; afinal, por que eles teriam um nome diferente para tal coisa se esse não fosse o caso?
E só pensar nisso fazia Soluço corar, se perguntando se os outros dragões sentiam tal coisa vindo da ligação entre ele e Banguela.
Honestamente? Ele gostava daquilo. E ele sorria ao se perguntar se outros olhavam para eles, mesmo com suas diferenças, e pensavam consigo mesmos sobre como gostariam de “ter o que eles tinham”.
E às vezes… Soluço se pegava pensando exatamente nisso: o que exatamente eles tinham?
A conexão mental entre os dois era clara, Soluço honestamente não se surpreenderia se ele e Banguela fossem realmente Companheiros de Vida. Ele se lembrava daquele momento em que os dois se encontraram pela primeira vez, nas sombras da noite, durante um ataque à Berk. Até então ele acreditava que tudo tinha sido pelo acaso, mas e se não fosse? E se eles tivessem sido destinados a se encontrar naquela noite?
Ele não entendia exatamente porquê um humano e um dragão estariam conectados do modo como eles estavam, mas… Talvez fosse algo mais do que só isso, do que só eles.
Soluço às vezes se pegava pensando nisso, porém empurrava aqueles pensamentos antes que eles crescessem demais. Porque ele sabia em que direção ele iria, se lembrando de seus planos antigos, de provar para os vikings que eles não precisavam temer os dragões, que podiam conviver em paz… Quando pensava nisso, Soluço se lembrava de como seu pai e os outros vikings reagiram na arena, e sentia seu estômago embrulhar quando pensava em que tipo de reação a imagem dele, fugindo nas costas de um Fúria da Noite, podia ter tido em Berk.
Ele tinha um pouco de medo do que encontraria caso retornasse para sua ilha natal, embora parte dele tivesse esperanças que, talvez, o que ele tinha feito tivesse uma reação positiva. Mas sempre que aquela ideia atravessava sua cabeça, ele a ignorava, sabendo que a chance dela ser verdadeira era bem baixa.
Porém, se a relação entre ele e Banguela, entre um viking e um dragão, tinha um significado importante, bem, Soluço sentia que talvez ela fosse vista assim em outro momento, não agora. Mas quem sabe? No final das contas o que importava era o que aquela relação significava para ele… E para o Banguela.
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— Que tal uma soneca, hein, amigão? — Soluço ofereceu. — Aqui parece bom o bastante.
Banguela arrulhou um som concordante, deixando seu peso cair na grama baixa e quente. Soluço rapidamente o acompanhou, deslizando contra o lado do dragão como costumava fazer e suspirou, contente.
Ele desviou os olhos para o horizonte. Ele podia ver o mar desaparecendo na névoa distante. Por um momento ele se lembrou de como era encarar o horizonte dos pontos mais altos de Berk, vendo só água até onde a vista alcançava. Era incrível como algumas coisas podiam ser tão similares e tão diferentes ao mesmo tempo…
Quando acordou aquele dia, Soluço tentou lembrar quanto tempo já tinha passado desde sua chegada à ilha. Ele tinha parado de contar com diligência fazia um tempo, mas acreditava que já devia ter se passado algumas luas cheias… Ele diria, umas seis, talvez sete luas? Era incrível o quão rápido o tempo tinha passado…
Soluço se lembrava das várias vezes em que já sentiu como se sua vida tivesse virado de cabeça para baixo: o encontro com a Fúria da Noite quando ainda jovem, a derrubada daquele mesmo dragão, quando ele fez amizade com Banguela e o momento em que o dragão o mordeu, o dia em que eles fugiram de Berk e quando Soluço descobriu a verdade sobre a mordida. Quando ele parou para remoer o fato de que tinha aceito ser companheiro de Banguela, Soluço admitiu que tinha esperado sentir aquilo de novo, como se sua vida tivesse virado de ponta cabeça pela milésima vez, mas... Não... Em geral, a vida como companheiros não era lá muito diferente da vida que os dois compartilhavam antes.
A grande diferença, ele notou, era algo bom: a conexão que ele tinha sentindo em relação à Banguela desde o momento em que eles tinham se tornado amigos tinha se intensificado, e não só porque ele tinha finalmente feito contato com a energia do dragão.
Uma das principais preocupações de Soluço, ele tinha de admitir, era se acostumar com a parte física daquilo tudo. Mas, honestamente? De algum modo, aquilo tinha sido ainda mais fácil de aceitar que a conexão mental entre os dois.
A cada dia que passava, Soluço estava se acostumando mais e mais com o modo como o Banguela demonstrava seu amor. Ele se surpreendeu, mas sentia que, mesmo se aquilo não tivesse acontecido, ele um dia acabaria se acostumando com as lambidas do dragão. Desde o começo Soluço já sabia que aquelas lambidas significavam afeto para Banguela, mas agora que eles tinham formado uma conexão, aquela ação parecia ter mais peso do que antes; e Soluço achava mais fácil ignorar a sensação estranha da saliva do dragão contra sua pele quando sua mente se focava no calor confortável que vinha da energia do outro, o envolvendo totalmente em um abraço quente feito de sombras invisíveis aos olhos.
Enquanto isso, Banguela adorava beijos humanos, Soluço aprendeu rapidamente, ao ponto de que o Fúria da Noite não podia passar um dia sem receber um beijinho no focinho antes de começar a choramingar. Por um momento Soluço até se lembrou do modo como seus pais trocavam pequenos selinhos quando se encontravam vez ou outra durante o dia, antes de continuar com seus afazeres. Ele já tinha esperado um dia fazer o mesmo quando mais velho e casado, e ele tinha conseguido exatamente aquilo, só com a diferença de que seu companheiro não era uma viking.
Para qualquer um aquilo seria algo difícil de aceitar, mas, àquele ponto, Soluço sabia que se sentia mais confortável com dragões do que com humanos, com Banguela do que com qualquer paixonite que ele tinha tido em Berk – especialmente Astrid.
Como se soubesse que os pensamentos do rapaz estavam deslizando naquela direção, Banguela se moveu, cutucando o lado de Soluço com o seu focinho. Soluço afastou aqueles pensamentos e ergueu suas paredes levemente.
Sem receber uma resposta imediata, Banguela choramingou e deu mais um leve empurrão no seu companheiro. Soluço abriu os olhos.
— O que foi? — Ele perguntou. Banguela choramingou mais uma vez, o observando de baixo com olhos grandes e pidões, e Soluço sabia que caso fosse um humano, Banguela estaria mostrando um bico exagerado. Ele teve de rir. — Ah, você quer mais beijinhos, é? — As barbatanas auriculares se ergueram e a cauda de Banguela balançou. Soluço balançou a cabeça em resposta. — Seu dragãozinho mimado, vem cá.
Banguela se moveu imediatamente, erguendo a cabeça e apertando o focinho contra o rosto de Soluço. O rapaz riu e empurrou o dragão um pouco, para poder pousar um beijinho contra o focinho grande desse.
Após cada beijo, um leve arrulho escapava dos lábios do dragão, e Soluço não podia segurar uma risada.
Banguela realmente tinha gostado daquilo, o que era adorável, e Soluço tinha que admitir que ele gostava também. Honestamente, o único momento em que ele não permitia que Banguela chegasse perto dele era depois que o dragão comia alguma coisa, especialmente peixe. Só de pensar naquilo Soluço já se sentia enjoado…
Dragões, é claro, não ligavam para mau hálito, mas como um humano, Soluço ligava muito. Banguela ficou claramente incomodado, a julgar pelo modo como rolou os olhos e resmungou quando Soluço disse que eles precisavam fazer alguma coisa quanto aquilo, se o dragão queria continuar recebendo beijinhos. Mas, para a surpresa de Soluço, ele descobriu que Banguela tinha começado a tentar mitigar aquele problema, primeiro com água e depois mastigando das mesmas folhas que Soluço um dia usou para fazer um pouco de chá – ele sempre seria grato à Perna-de-Peixe por ter dividido seu conhecimento sobre plantas com ele, e aos deuses por terem colocado aquelas plantas na ilha.
Saber que Banguela, um dragão, se importava o bastante com o que ele pensava e sentia a ponto de fazer aquilo, fez Soluço se esforçar para se acostumar ao modo como o dragão gostava de o lamber. Ele não esperava se acostumar com muita facilidade, mas…
Soluço riu quando Banguela decidiu que tinha recebido beijos o bastante e era hora dele retribuiu, lambendo o lado inteiro do rosto do rapaz de uma só vez.
— Banguela! — Soluço retrucou sem força, inclinando a cabeça para o lado, dando mais espaço para o dragão. Banguela tomou a oportunidade, lambendo o pescoço do humano, o fazendo rir e se encolher instintivamente. — Ah! Não, essa é a toga limpa! Você vai cobrir ela de saliva! — Ainda assim, ele não fez nada para afastar o outro.
Banguela soltou uma risada de dragão, continuando o que estava fazendo. As lambidas de Banguela sempre faziam cócegas, graças à sua língua levemente áspera, e Soluço gostava daquela sensação.
O dragão se moveu para ficar mais voltado para o humano e, quando Soluço notou, ele não tinha mais suporte. Ele deslizou uma mão até o chão para não cair de vez, mas continuou se inclinando para trás enquanto o dragão se apertava contra ele. O jovem viking riu baixinho, até que um arrepio subiu por suas costas quando a língua de Banguela rolou por cima de um ponto específico de seu pescoço. Ele pôde sentir seu coração bater mais rápido e se perguntou se Banguela podia sentir também.
Soluço suspirou, deslizando um pouco mais para trás e Banguela o acompanhou, lambendo aquele ponto mais uma vez. O garoto sentiu seus dedos do pé se enrolarem quando um outro arrepio correu por seu corpo, dos pés à cabeça, deixando uma sensação interessante para trás, um tipo de formigamento que parecia mais presente aonde Banguela lambia. Era… Bom…
Uma das patas dianteiras de Banguela pousou gentilmente sobre suas pernas e Soluço pulou, sentindo as garras perto demais de…
— B-Banguela, calma aí! — Soluço exclamou, abaixando a mão e empurrando a pata do dragão. Banguela não se moveu de imediato, mas vez como pedido eventualmente, pensando que tinha machucado o rapaz, e Soluço teria agradecido, caso não tivesse perdido sua voz em um gemido baixo ao sentir a ponta da língua do dragão tocar as cicatrizes em seu ombro, expostas por causa da toga larga. Seu rosto esquentou e ele sentiu vergonha ao ouvir aquele som saindo de sua boca.
Mas ele não podia mentir para si mesmo, aquilo era… Gostoso? Ele não saberia como explicar exatamente. Mas ter Banguela praticamente em cima dele daquele jeito, o escondendo do resto do mundo com sua forma grande e escura, assim como a sensação daquela língua quente deslizando por seu pescoço, acima de sua clavícula e seu ombro exposto, era tudo tão…
— T-tá bom, Banguela! — Soluço disse mais forçadamente, apertando as mãos contra o pescoço do outro e empurrando. — Agora chega!
Dessa vez Banguela obedeceu, fazendo um som incomodado. Ele balançou a cabeça e bufou, encarando Soluço com uma careta desgostosa. Soluço corou ainda mais forte, notando como tanto seu corpo quanto sua mente sentiu falta do toque do outro tão logo ele se afastou.
"Mas você está gostando."
— E-eu… — Soluço tentou dizer alguma coisa, mas as palavras se alojaram em sua garganta. Banguela estava certo, ele estava gostando… E saber disso o deixava ainda mais nervoso e confuso.
Banguela ronronou, o som baixo, nada mais que uma vibração poderosa, e Soluço tremeu em resposta, sua pele se arrepiou.
"Eu sinto o seu cheiro." A energia de Banguela envolveu a de Soluço com aquelas “palavras”.
Soluço piscou, sentindo seu rosto esquentar ainda mais, assim como o resto do seu corpo.
— O-o que...?! — Soluço perguntou de modo bobo, já sabendo do que o dragão estava falando, mas era como se sua mente não quisesse processar tal coisa. Banguela tinha inclinado a cabeça, abaixando o olhar para o colo do humano. Soluço apertou as pernas com força assim que notou o Fúria da Noite abaixando a cabeça naquela direção. — Banguela! Não! Chega!
"Por quê?" Dessa vez Banguela soou menos incomodado, embora ainda um pouco frustrado, mas com uma leve camada de curiosidade e preocupação acompanhando sua energia.
— P-por que? — Soluço gaguejou e de repente se sentiu incapaz de falar. — E-eu estou- Não! Eu não estou- Quero dizer… — Ele apertou as pernas com mais força, tentando se esconder, de repente desejando desaparecer…
"Soluço." O modo como a energia de Banguela envolveu Soluço, “dizendo” seu nomo daquele modo que dragões “diziam”, não só o calou, mas também acalmou o humano quase no mesmo instante, fazendo o nervosismo derreter. Ele piscou, erguendo os olhos para os de Banguela, encontrando o dragão o observando de modo gentil com aqueles grandes olhos verde amarelados. "Tudo bem." Banguela arrulhou. "Eu não vou fazer nada se você não quiser."
— Eu… — Soluço tentou dizer, mas não conseguiu. Ele conseguia sentir através de sua conexão que, mesmo levemente frustrado, o dragão falava a verdade, ele podia sentir que podia confiar em Banguela, mas não era como se ele precisasse daquela conexão entre os dois para ter certeza daquilo. Ainda assim, aquela confirmação, quase instintiva, só ajudou fazê-lo se sentir ainda mais calmo e reconfortado.
Ele fechou os olhos e respirou fundo. Quando abriu os olhos novamente, ele ainda encontrou Banguela o observando, mas havia um pouco mais de distância entre os dois. Mesmo se sentindo claustrofóbico segundos antes, ele se sentiu ainda mais desapontado com o espaço vazio entre os dois. Para remediar isso, ele ergueu a mão do pescoço do dragão para a mandíbula desse, gentilmente afagando as escamas quentes naquela região.
— Eu sei, amigão, eu sei…
Banguela ronronou, um som baixo e grave que percorreu o corpo de Soluço dos pés à cabeça mais uma vez. Ele fechou os olhos e mordeu o lábio, tentando ignorar o que aquelas vibrações ainda estavam fazendo com ele. Ao invés disso, ele se focou em acalentar a cabeça de Banguela contra seu peito, deixando que o dragão fungasse silenciosamente contra seu pescoço, possivelmente ainda caçando um pouco mais daquele “cheiro”.
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Soluço se pegou pensando naquele momento mais vezes do que gostaria de admitir para si mesmo e qualquer um. Com o passar dos dias ele aprendeu a erguer suas paredes para a energia de Banguela com mais velocidade, ignorando aquela parte dele que sempre queria estar conectada ao dragão, assim como ele ignorava o choramingar de Banguela quando esse não conseguia sentir sua energia.
— Privacidade é bom e eu gosto, Banguela. — Soluço retrucou uma vez e, fora um bufado e um rolar de olhos, ele não recebeu mais nenhuma reclamação do Fúria da Noite.
Soluço não era idiota, ele sabia que fazer aquilo deixava Banguela se sentindo frustrado, mas não era como se o dragão não fizesse o mesmo com ele de vez em quando – às vezes até como retaliação. Soluço reclamaria no momento, mas como o dragão, esqueceria em seguida. Afinal, como Fogo Gelado mencionou uma vez:
"Vocês dois são bem teimosos." E adicionou: "Que ótimo, vocês combinam."
Tanto Banguela quanto Soluço tomaram aquilo como um elogio.
Era difícil, porém, com o passar do tempo. E por vários motivos.
Soluço se encontrava observando Banguela, sentindo sua mente desviar em outras direções que nunca tinha desviado antes. E ele se permitia repetir os pensamentos daquele momento quando estava sozinho, cedo de manhã ou de tarde, quando Banguela saía algumas vezes sem ele, só para esticar as pernas e fazer outras coisas. Ele nunca ficava fora por muito tempo, sempre voltando bem quando Soluço acordava, ou quando o rapaz estava prestes a adormecer.
O rapaz suspirou, desviando o olhar para o canto da caverna em que Banguela normalmente dormia, uma marca longa de queimado demarcando o lugar onde o dragão se enrolava em volta de si mesmo, confortável e relaxado. E ele se lembrou daquele momento, do modo como os dois estavam relaxando em baixo do sol, antes… Daquilo…
Soluço deslizou a mão até a frente das suas calças e parou, mordendo o lábio.
Ele ia mesmo fazer isso? Pensando sobre um dragão?
Ora, mas qual era o problema? Aquele não era um dragão qualquer! Banguela era seu companheiro agora, não era? E era isso que companheiros faziam!
Bem, sim, mas eles eram humano e dragão! Soluço nem sequer tinha pensado naquele lado da relação, tendo demorado tanto para aceitar até mesmo a parte romântica de tudo aquilo!
Beijinhos e lambidas eram uma coisa, agora, sexo…! Bem…
E ele não podia mentir, desde que a conexão entre os dois tinha sido feita, Soluço começou a sentir e pensar de um modo diferente. Era como se algo mais que uma conexão mental tivesse sido aberta entre eles; era algo mais íntimo, mais profundo… Uma conexão entre as suas almas.
Lendas sobre “almas gêmeas” existiam entre os vikings, e pelo jeito o mesmo existia entre os dragões, com os “Companheiros de Vida”. E ele se perguntava se era isso mesmo que existia entre os dois.
Um humano e um dragão, com suas almas entrelaçadas…
Há um tempo atrás ele acharia aquilo ridículo, mas nesse ponto, Soluço via dragões praticamente no mesmo nível dos humanos, se não até superiores a esses – de vez em quando, pelo menos. Não seria uma loucura imaginar tal coisa.
Mas com o passar do tempo, Soluço sentiu essa conexão se intensificar e se estender em outras direções.
Numa direção mais física…
Soluço suspirou, apertando os olhos bem fechados enquanto sua mão rolava gentilmente sobre a frente de suas calças. Ele se lembrou do modo como a pata grande de Banguela tinha pousado a centímetros de distância daquela área, se lembrando da sensação de ter aquele peso contra sua coxa. As patas de Banguela eram enormes, praticamente podia cobrir completamente a caixa torácica de Soluço e só pensar naquilo fazia o corpo dele se arrepiar.
Banguela era uma criatura tão poderosa, tão forte, mas, ainda assim, quando aquela pata enorme com garras longas e perigosas tinha sido colocada sobre ele, Soluço se sentiu mais do que seguro. E não só isso, ele se sentiu almejando mais daquele contado, aquele calor e a pressão daquela pata pesada…
Soluço sentiu um arrepio ao pensar naquilo. Ele nunca tinha feito sexo antes, nem sequer com uma pessoa… Imaginar que sua primeira vez podia ser com um dragão era um tanto… Assustador. Mas era só ele pensar que tal dragão era Banguela, e Soluço automaticamente se sentia mais calmo.
Ele confiava em Banguela mais do que já confiou em qualquer outra pessoa em sua vida. Quando Banguela dizia que não faria nada que o rapaz não quisesse, Soluço sabia que era verdade.
Honestamente, ele sabia que não era aquilo que o deixava com medo, mas toda a ideia física da coisa…
Ele já tinha visto um pouco do dragão quando Banguela precisava obedecer ao “chamado da natureza” e ele nunca tinha pensado muito naquilo. Ele era, como esperado, bem grande; especialmente se comparado a um humano. E, embora Soluço tentasse ignorar aqueles pensamentos, ele às vezes se pegava pensando em “como” e se qualquer coisa seria sequer possível entre os dois.
Por um momento Soluço lembrou do modo como Banguela o observava vez ou outra quando ele tomava banho e quando achava que o rapaz não sabia que ele estava olhando. Ele se perguntou se Banguela só estava curioso vendo um corpo tão diferente ou se ele pensava naquilo também…
Será que Banguela pensava nele de modo sexual…?
Será que ele conseguia pensar em Banguela daquele modo…?
Ele não tinha medo de admitir, é claro, que ele achava Banguela uma criatura bonita de se olhar; das barbatanas auriculares que se moviam de modo adorável, às marcas escuras e claras que pontilhavam suas escamas; das asas largas e poderosas, aos olhos verde-amarelados que viviam presentes na visão de Soluço até mesmo depois dele fechar os olhos… Fúrias da Noite eram criaturas belas, Fogo Gelado era tão bonita quanto Banguela, mas… A Fogo Gelado não fazia Soluço se sentir do jeito que ele se sentia quando admirava o Banguela.
Havia algo em Banguela e, a esse ponto, Soluço não sabia totalmente se era só algo “espiritual”, vindo da conexão especial que existia entre eles, mas sim algo mais…
Soluço parou para pensar nas poucas vezes em que tinha se masturbado, do prazer que tinha sentido… E por um momento ele imaginou como seria se Banguela fosse quem estava o fazendo sentir prazer…
Mas como…?
Um arrepio subiu por seu corpo ao pensar no dragão, seu melhor amigo, seu novo companheiro. Se lembrando do modo como Banguela tinha ficado acima dele aquele dia, quando ele soltou o dragão naquele dia, no que já parecia ser anos atrás, antes da lembrança mudar novamente para o que tinha acontecido alguns dias antes. As posições eram similares, mas o contexto era totalmente diferente…
E Soluço se pegou querendo sentir Banguela contra ele como naquele dia, a forma grande e poderosa do dragão o envolvendo, o protegendo do resto do mundo…
Soluço balançou a cabeça afastando a mão, embora seu corpo tivesse reclamado, sentindo falta da sensação quase imediatamente.
— Não, não, muito cedo pra isso…! — Ele disse para si mesmo. — Vocês acabaram de ficar juntos, Soluço! Vai com calma…! — E riu sem jeito, corando ao se lembrar que, normalmente era esperado que o casal consumasse a relação logo após o casamento na tradição viking. — B-bom… Eu não tive um casamento viking, então…
Soluço sorriu ao se lembrar de Banguela falando uma vez sobre casamento e sobre como eles deviam ter um. O dragão tinha deixado aquilo de lado rapidinho e Soluço tinha ficado grato por isso.
De qualquer modo, a esse ponto, Soluço já aceitava aquele voo como seu “casamento”. O voo em que os dois voaram juntos como se fossem um só… Aquilo tinha muito mais significado para ele do que qualquer outra celebração viking, e, honestamente, ele não estava surpreso em descobrir que pensava desse jeito.
Soluço se lembrou do que aconteceu depois daquele voo, do modo como Banguela se apertou contra ele e o mordeu, o marcando como seu companheiro… E por um momento ele pensou no que teria acontecido depois daquilo. Se ele tivesse aceito a conexão e a relação imediatamente, no meio do lago, no velho cânion em que os dois se conheceram de verdade, onde se tornaram amigos… Onde suas vidas mudaram completamente…
E só pensar nisso fez suas calças ficarem mais apertadas mais uma vez.
— A-ah, pelos deuses… — Soluço grunhiu envergonhado.
Disclaimer: A série Como Treinar o Seu Dragão e seus personagens pertencem à Dreamworks Animations, Dean DeBlois, Chris Sanders e Cressida Cowell. Essa é uma produção de fã para fã e sem fins lucrativos.
Todos os personagens aqui presentes possuem mais de 18 anos de idade.