Histórias | Início | Capítulos - To the Sky
Soluço se remexeu, sentindo como se estivesse envolto por todo o calor que existia no mundo. Era confortável, mas, ao mesmo tempo, o suor tornava difícil encontrar uma posição realmente boa. De qualquer modo, seu corpo estava dizendo que era hora de acordar, então não tinha porque ele se preocupar com isso.
O garoto se moveu levemente e parou assim que sentiu o mundo se mover também. As pernas fortes que o envolviam o puxaram para mais perto, pressionando-o contra um peito musculoso e escamoso, quente como uma fornalha. E logo em baixo de seu ouvido, ele podia ouvir o bater lento, mas poderoso de um coração largo, criando um ritmo conhecido que, a esse ponto, poderia levá-lo ao mundo dos sonhos em apenas alguns segundos.
Soluço sorriu, finalmente abrindo os olhos.
— Banguela…? — Ele chamou, virando o olhar para cima e encontrando a cabeça do dragão deitada de lado, ainda com os olhos fechados. Uma barbatana se moveu, mostrando que ele estava acordado e que ouvia. — Bom Dia.
A única resposta que Soluço conseguiu foi um grunhido draconiano e um leve remexer. Ele sorriu, se esticando embaixo do peso de Banguela para plantar um beijo na parte de baixo de sua mandíbula. Os cantos dos lábios do dragão se ergueram como num sorriso e um ronronar grave fez seu peito vibrar.
Tudo o que tinha acontecido na noite anterior voltou para Soluço e o rapaz sentiu seu rosto, já quente de suor, esquentar ainda mais com um rubor. Então eles tinham finalmente feito aquilo, eles tinham feito sexo… Ele mordeu o lábio ao se lembrar que vikings também chamavam aquilo de “fazer amor”. É, ele preferia aquele título, o que ele e Banguela tinham feito tinha sido mais que algo físico. Soluço ainda podia sentir o modo como a energia de Banguela tinha tocado a dele, como se ela tivesse deixado uma marca em sua própria energia, não muito diferente das marcas de dentes em seu ombro.
Ele afagou as cicatrizes com os dedos.
Agora sim, eles estavam conectados do modo mais profundo que poderia existir. E Soluço nunca tinha se sentido mais feliz.
Ele suspirou, fechando os olhos ao sentir a respiração profunda do dragão a suas costas. Ele não queria levantar ou se mover, só queria ficar parado onde estava, apreciando o calor e a presença do outro, mas…
— Banguela… Eu preciso, uh… A natureza chama…?
Banguela bufou em resposta, mas ergueu a asa e a perna que cobriam o rapaz.
— Valeu, amigão- Ai… — Uma dor forte e repentina subiu pelas costas de Soluço assim que ele tentou se levantar. Banguela finalmente abriu os olhos, os voltando para o rapaz com um trinado suave. — Ah, não, não, eu estou bem, Banguela, é só… — Soluço sorriu, se sentando novamente e sentindo cada músculo reclamando com o movimento. — Só um pouco dolorido…
Mas é claro, ele devia saber que acabaria se sentindo assim depois do que tinham feito. Suas pernas e seus braços se sentiam um pouco doloridos depois de ficar tanto tempo de quatro com o peso do dragão em cima dele; seus quadris estavam sofrendo depois da língua e do membro de Banguela… Mas então ele se lembrou do modo como Banguela tinha cuidado dele depois de tudo e corou com ainda mais força.
Banguela soltou um leve choramingar, tirando o rapaz de seus pensamentos. O dragão se moveu para poder pressionar o focinho contra o lado de Soluço, que sorriu, erguendo o braço levemente dolorido para afagar a cabeça do dragão.
Soluço tentou se levantar de novo, sibilando ao sentir a mesma dor de antes descer por suas pernas, mas antes que ele pudesse cair para trás, Banguela estava ali, apertando a cabeça contra suas costas e o ajudando a se equilibrar de novo.
“Tem certeza que está tudo bem?” Banguela inclinou a cabeça para o lado quando teve certeza de que o humano conseguiria ficar de pé.
— Sim, amigão. — Soluço sorriu, afagando a cabeça do dragão. — Melhor que bem.
E era verdade, mesmo com os músculos reclamando, ele se sentia ótimo, tanto fisicamente quanto… Lá dentro. Ainda assim, ele sorriu e deixou que Banguela o acompanhasse, usando a cabeça e o pescoço musculoso como apoio para que ele pudesse andar com segurança.
— Então… — Soluço começou a dizer mais tarde, enquanto deixava a água da pequena cachoeira cair sobre ele. — A gente devia falar sobre isso…?
“Além de que foi incrível?” Banguela ronronou com a cabeça inclinada para o lado, os olhos presos no rapaz enquanto esse se livrava dos últimos resquícios do que eles tinham feito na noite anterior. A esse ponto, Soluço nem tinha mais vergonha de ser observado daquele modo.
— Bom, é. Foi incrível mesmo… — Soluço concordou com um sorriso bobo, seu rosto esquentando. Ele parou por um momento, se movendo devagar para se sentar em uma das pedras da piscina natural, bem ao lado do dragão; ele tentou segurar uma careta de dor ao fazer aquilo, mas não teve muito sucesso. — Eu… Sério, Banguela, eu ainda não acredito que a gente fez isso…! Mas…
Banguela arrulhou baixinho e Soluço se voltou para ele, encarando aqueles olhos verde-amarelados perto dos seus. Ele se lembrou do modo como aqueles olhos tinham o observado na noite anterior, as pupilas dilatadas ao máximo, totalmente focadas nele como se nada mais no mundo existisse, só ele. Seu coração pulou com mais força e ele apertou as pernas, embora fosse praticamente impossível esconder sua excitação estando totalmente pelado. Era ainda incrível para Soluço pensar que ele ficava assim por causa de um dragão! Mas não era um dragão qualquer, era o Banguela.
— Eu estou feliz que a gente fez… — Ele disse por fim, sorrindo quando o dragão arrulhou, abaixando a cabeça e a apertando contra a dele.
“Eu também.” Banguela ronronou, inclinando de modo que ele pudesse continuar com o lado da cabeça apertada contra a bochecha de Soluço, mas ainda que seus olhos pudessem se encontrar. “E quanto mais vezes a gente fizer, mais fácil vai ser…”
— M-mais vezes? — Soluço gaguejou e imediatamente se sentiu bobo com aquela reação.
É claro que eles iam fazer aquilo mais vezes, como poderiam não fazer? Era só Soluço se lembrar do prazer que tinha tomado seu corpo e sua mente, da sensação de proteção e amor que o envolveu totalmente, e ele logo se encontrava ansiando por sentir tudo aquilo mais uma vez. E só pensar em como ficaria cada vez mais fácil enquanto os dois se acostumavam…
Banguela fez um barulho baixo, confuso.
— A-ah, claro… Não! Não! É claro que eu gostaria! Só que… — Soluço disse rapidamente, recebendo um olhar curioso do dragão. Ele afagou o traseiro, rindo sem jeito quando os olhos de Banguela desceram e acompanharam o movimento. — Nada disso por enquanto…
-o-
Soluço suspirou, deitando a cabeça no peito do dragão enquanto recuperava o fôlego, se sentindo seguro com as patas de Banguela o segurando sobre seu corpo. Banguela ronronou baixo, se inclinando para frente e se encolhendo em volta de si mesmo para poder trazer a cabeça até o humano. Soluço sorriu ao sentir a língua longa do dragão tocar seu ombro, lambendo as cicatrizes que enfeitavam a pele pálida e coberta de sardas.
Aquilo fez Soluço pensar, se lembrando de uma conversa que tinha ouvido entre dois dragões, há pouco tempo. Uma Nadder e uma Escalderrível, fofocando do mesmo modo como dois vikings fariam em Berk. A Nadder arrulhou baixinho, transmitindo interesse em sua energia, e a Escalderrível inclinou o pescoço longo para o lado. Mesmo longe, Soluço pôde ver uma marca na base de seu pescoço, cortando entre as escamas mais lisas, típicas de dragões marinhos; Soluço não precisava de muito para saber que tipo de marca era aquela. No meio da conversa, outro Escalderrível se aproximou e, quando ele apertou a cabeça contra a da outra, Soluço viu uma marca similar nele.
Não demorou muito para Soluço notar que isso era o comum. Quando ele viu Fogaréu descansando sobre umas pedras, ele procurou uma marca similar e a encontrou, próxima a seu “ombro”, onde a asa começava; era difícil encontrar Flâmula por aí, mas um dia Soluço a viu e a encontrou com uma marca similar.
Ele corou, desviando os olhos para o pescoço musculoso de Banguela, seguindo uma linha invisível até os ombros do dragão. As escamas estavam intactas, como sempre estiveram...
“Soluço?” A energia de Banguela tocou a de Soluço como se fosse um dedo o cutucando.
— Ah, o que- O que foi, Banguela? — O humano piscou, erguendo o olhar para encontrar o dragão o encarando com curiosidade.
“Distante...” Banguela arrulhou baixinho, inclinando a cabeça para o lado, perguntando sem palavras se seu parceiro estava bem.
— Ah, é, só, sabe como é... Só pensando... — Soluço disse, oferecendo um sorriso para o outro.
“ É, eu sei bem como que é .” Banguela ronronou, abaixando a cabeça e esfregando a bochecha longa contra a de Soluço. O rapaz revirou os olhos, mas riu, inclinando a cabeça e correspondendo com seu próprio movimento.
Não demorou muito para Soluço notar que aquela ação, que tinha se tornado tão costumeira para ele, não era algo humano, mas sim um modo específico dos dragões de mostrar afeto. Pensar que ele tinha se acostumado a apresentar amor do modo como os dragões faziam era interessante, mas às vezes ele se encontrava preocupado de perder sua humanidade...
E o fato de que ele estava pensando de novo em algo que dragões faziam para marcar aqueles que escolhiam como seus parceiros para a vida, só intensificava aquilo.
Mas ainda assim, não era como se ele pudesse ignorar aquilo, pelo menos não agora.
— Banguela...? — Ele começou, se sentindo um pouco bobo. Banguela inclinou a cabeça para trás, ouvindo. — Eu vi que... Bem... Eu vi outros casais e… — Soluço desviou os olhos para os ombros do dragão mais uma vez. Ele ergueu a mão e afagou as escamas negras naquela área, Banguela inclinando o pescoço de lado como se estivesse apresentando mais de seu pescoço para o humano. — Eu vi que ambos têm marcações, mordidas... — Soluço deslizou a mão para o seu ombro. — Mas entre a gente só eu tenho…
Banguela ficou quieto por um momento, apenas observando o humano Ele manteve sua energia distante e Soluço lhe deu privacidade. E então ele bufou, o ar caindo sobre Soluço, fazendo seu cabelo avermelhado dançar.
“ É, não é como se esses dentinhos humanos fossem conseguir fazer alguma coisa, né não, Soluço? ” Ele arrulhou, apertando a língua contra a boca de Soluço e empurrando o lábio desse para cima, revelando seus dentes. Soluço balançou a cabeça, empurrando o dragão pelo focinho.
— É, é tem razão… — Ele disse, forçando um sorriso sem jeito. — Eu só estava pensando demais... Ah!
As patas que o envolviam de repente seguraram com mais força, como se Banguela estivesse tentando o impedir de se afastar.
“ Ei, não é um problema .” O dragão ronronou, praticamente abraçando o humano. “ Você não pode marcar meu corpo, mas marcou a minha energia, isso já é o bastante .”
— A-ah, puxa... — Soluço sentiu o rosto esquentar e riu, sem jeito. — Quero dizer, muito poético você, hein, Banguela...? — A esse ponto ele já devia estar acostumado àquele tipo de comentário vindo de Banguela.
Ele não entendia como o dragão podia “dizer” frases como aquela sem parecer perceber o peso que elas carregavam. Até parecia que todos os dragões eram assim... Talvez fosse por que a comunicação deles não usava palavras de verdade, mas sentimentos, e Soluço tinha quase certeza que esconder coisas era mais difícil quando se lidava com sentimentos e sensações.
“ Mas, se você quiser... ” Banguela trinou baixinho, inclinando a cabeça de um modo adorável, que jogou suas barbatanas auriculares para o lado. “ Talvez tenha um jeito… ”
Banguela examinou Soluço com os olhos por um momento, descendo pelo corpo do humano como se estivesse procurando alguma coisa, antes de desviar a cabeça, se voltando para as roupas que haviam sido jogadas no meio da caverna. Soluço desviou o olhar, tentando encontrar o que tinha chamado a atenção do dragão.
Soluço havia removido cada peça de seu vestuário, as deixando espalhadas no chão de pedra, sem se preocupar em que lugar elas acabaram (apenas tendo certeza de que elas não tinham caído na fogueira), mas ele tinha cuidado com os objetos que carregava consigo, como seu instrumentos de desenho e forja, incluindo a pequena adaga que tinha pertencido à seu avô. Não demorou muito para Soluço notar que era bem para a adaga que Banguela estava olhando.
— M-minha adaga...? — Ele piscou, surpreso.
“ Ela corta, então por que não? ” Banguela bufou, uma reação similar à de um humano dando de ombros.
Soluço se voltou para Banguela mais uma vez, procurando alguma coisa nos olhos do dragão, sem saber exatamente o quê. Pensar em erguer a adaga contra Banguela fez Soluço se lembrar da primeira e única vez que ele tinha feito aquilo, quando ele estava parado diante de um Fúria da Noite caído e envolto em cordas. Já fazia tanto tempo desde aquele encontro, aquele momento fatídico... Mas ainda assim Soluço conseguia sentir a mesma coisa que tinha sentido aquele dia, o medo e a incerteza, vindo tanto dele quanto do próprio dragão.
— N-não, Banguela, Eu não posso fazer isso. — Ele murmurou, desconfortável, desviando o olhar como se envergonhado.
“ Pode sim. ” O dragão arrulhou, inclinando a cabeça para o lado, expondo mais de seu pescoço poderoso. Soluço encarou, sem saber como se sentia. “ Só de leve. ”
— Banguela! Eu já não pude fazer isso antes! Como eu poderia fazer? — Soluço retrucou o rosto esquentando, um misto de vergonha pelo que quase tinha feito no passado e vergonha de não se sentir capaz de fazer algo agora.
“ Porque você não vai me matar. ” Banguela bufou, virando a cara para Soluço novamente, prendendo seus olhos nos do humano, que se sentiu incapaz de desviar o olhar. “ Você vai me marcar como seu Companheiro de Vida .”
Soluço sentiu a energia de Banguela envolver a sua, rolando por sua mente e fazendo seu corpo se arrepiar.
— Bem... Mas ela é tão pequena... Ninguém vai conseguir ver a marca... — Ele murmurou, sem saber em que direção estava levando aquela conversa.
“ E isso importa? ” Banguela bufou de modo mais alto, revirando os olhos como um humano faria, como ele tinha aprendido a fazer com Soluço.
Mas é... Importava?
— Não... — Soluço admitiu.
Banguela soltou o humano quando esse se moveu, deixando que Soluço deslizasse do peito forte do dragão. Ele cambaleou até a adaga, a pegando de onde tinha deixado, em cima da cama de pedra e madeira. Soluço examinou a pequena arma por um momento, se lembrando do dia em que a tinha recebido de presente; há um bom tempo ela tinha sido um símbolo de sua natureza viking, mas agora... Ela ia ganhar um novo significado. E ele decidiu que gostava daquela ideia. Por mais que pensar em ferir Banguela fazia seu estômago revirar.
Soluço retornou para Banguela, se sentando no peito desse como tinha feito antes e o dragão rapidamente o envolveu com as pernas fortes mais uma vez, o que fez o rapaz sorrir.
Banguela arrulhou e inclinou a cabeça para o lado, o olhando pelo canto do olho. Soluço retornou àquele momento na floresta, mas rapidamente afastou o pensamento. Ele deslizou a mão livre sobre o pescoço de seu companheiro, deslizando até onde ele se conectava aos ombros poderosos e a base alta da asa. Era ali que ele tinha visto a marca em outros dragões, localizada, ele notou bem em cima de onde ele podia sentir o pulsar de seu coração... Fazia sentido.
Soluço escolheu uma escama e, com ajuda da lâmina, a puxou até a escama desconectar da pele do dragão com um som estranho. Banguela se remexeu, fazendo um som baixo e de desconforto, mas sua energia continuava suave, envolvendo a mente de Soluço e lhe incitando a continuar sem palavras.
O rapaz deslizou os dedos sobre a pele do dragão, a sentindo pela primeira vez, e ele não pôde deixar de examinar com interesse e curiosidade. De um cinza meio rosado, ela era áspera e forte, resistente, tanto que Soluço sabia que, nem mesmo se ele tentasse morder ali, ele conseguiria cortar a superfície.
— Desculpa… — Ele não conseguiu deixar de dizer, antes de cuidadosamente apertar a adaga contra a pele resistente de Banguela, e, após uma leve resistência, a lâmina afundou e sangue quente e vermelho deslizou para fora. Banguela respondeu com um sibilo e um rosnar baixo e Soluço tremeu, desconfortável, afagando as escamas embaixo de sua mão livre como se aquilo pudesse fazer alguma coisa.
Após alguns segundos de tensão, ele sentiu Banguela relaxar, e, sem querer causar mais estrago, Soluço retirou a lâmina da pele do outro.
Uma das grandes patas que o seguravam contra o peito do Fúria da Noite, se moveu até sua cabeça, grande o bastante para a acalentar com as garras de cada têmpora do humano, puxando o rosto desse para mais perto das escamas negras. Soluço não sabia bem porque tinha sentido que precisava fazer uma coisa específica, mas ele logo se encontrou inclinando na direção do corte.
Ele se lembrou de quando Banguela o mordeu, marcando não só sua pele, mas tudo que existia nele para sempre, o conectando ao dragão de um modo que nenhum tipo de tradição ou ritual viking de união poderia fazer...
Gentilmente, Soluço cobriu a marca com seus lábios, como se estivesse beijando a área, antes de abrir mais a boca, e envolver o corte com seus dentes, como se ele realmente pudesse fazer alguma coisa com eles. Ele fez uma careta, sentindo o sabor forte do sangue do dragão em sua língua, mas ele se sentiu preso no lugar. Por um momento Soluço se lembrou de quando Banguela tinha o mordido, do modo como o dragão tinha o segurado no lugar, sem se mover mesmo quando Soluço tinha começado a empurrar. Ele sentia como se estivesse na mesma situação...
Soluço não poderia dizer quanto tempo tinha passado, mas de repente Banguela tinha começado a ronronar em baixo dele. E, ao rolar a língua, ele podia jurar que o corte tinha se fechado, embora soubesse que aquilo seria impossível; o corte só devia ter parado de sangrar.
— Banguela... — Ele começou a dizer, mas não chegou a terminar, quando a língua de Banguela rolou sobre seus lábios, facilmente os afastando e deslizando para dentro de sua boca pequena e humana.
Soluço tinha quase certeza de que Banguela conseguia sentir o seu próprio sangue na língua do humano, mas tudo o que o dragão fez foi ronronar, curvando ainda mais em cima do rapaz e o puxando mais para si mesmo. Soluço sentiu seu corpo reagir e respondeu o ronronar com um gemido seu.
Ele não poderia dizer exatamente o que tinha acontecido, mas alguma coisa tinha mudado.
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Soluço nem sequer tinha pensado na possibilidade de que sua conexão com Banguela pudesse ficar mais forte do que já era, mas, de algum modo, tudo se intensificou desde então.
Ele sentia que era até difícil ficar longe de Banguela. Tudo o que ele queria era ficar ao lado do dragão e era fácil notar que Banguela estava sentindo o mesmo. Cada momento, mesmo que curto, em que os dois se encontravam distantes, Soluço sentia como se algo estivesse faltando em seu peito, e, assim que eles se encontravam de novo, aquela sensação sumia. E ele conseguia sentir que Banguela compartilhava daquele sentimento só pelo modo como a energia desse dançava em sua mente.
Desde aquela primeira vez íntima e física, eles repetiram o ato mais vezes do que Soluço teria coragem de admitir. Soluço podia sentir seu corpo se acostumando mais e mais ao de seu companheiro, a conexão entre os dois parecia se intensificar ainda mais, fazendo parte não só de sua mente, mas de seu corpo inteiro. E Soluço encontrava seus pensamentos indo em outras direções, mas ele facilmente os ignorava, normalmente esquecendo deles depois de um tempo.
Aos poucos as coisas começaram a voltar ao “normal”, a conexão entre os dois continuou forte (mais forte que antes, é verdade), mas logo a estranha agitação que tinha tomado conta tanto de Soluço quanto de Banguela diminuiu. E, com o desaparecer das nuvens cor de rosa, a mente de Soluço começou a se desviar em outras direções, para outros pensamentos, dessa vez ficando preso neles ao invés de esquecê-los.
Pensamentos calmos, domésticos e confortáveis… Pensamentos focados apenas nele e Banguela, juntos e felizes, esquecendo completamente o resto do mundo, como se só eles existissem.
Às vezes, nesses pensamentos, Soluço via sua família e seus poucos amigos de Berk, todos vivendo naquela ideia que ele tinha tido uma vez, em que vikings e dragões viviam em paz. Vez ou outra Soluço se encontrava desejando que tal coisa fosse possível, que um dia ele poderia voltar para casa…
E então ele retornava para o presente, para Banguela ali com ele e o que eles dividiam. E aqueles pensamentos domésticos retornavam. E, em pouco tempo, Soluço se encontrou empurrando tais pensamentos longe de sua mente, só para ter certeza de que Banguela não os ouviria, pelo menos ainda não…
Disclaimer: A série Como Treinar o Seu Dragão e seus personagens pertencem à Dreamworks Animations, Dean DeBlois, Chris Sanders e Cressida Cowell. Essa é uma produção de fã para fã e sem fins lucrativos.
Todos os personagens aqui presentes possuem mais de 18 anos de idade.