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6 anos depois...
– Você vai começar o treino?
– Sim! – disse Perna-de-peixe animadamente. – Meus pais decidiram que estou pronto! Bem, é claro que eu já me sentia pronto faz tempo, mas melhor tarde do que nunca!
Soluço assentiu, jogando uma pedra no mar azul lá em baixo. Ele observou Perna-de-peixe passando a mão no martelo de pedra que tinha ganho de seus pais junto com a notícia.
– Sabe, eu não esperava que você fosse… acabar querendo treinar. Sei lá… – Soluço sabia que o que ia falar em seguida podia soar meio estranho. – Você sabe tanto sobre dragões… não achei que fosse querer matar eles.
Perna-de-peixe não pareceu achar o comentário estranho, rindo levemente.
– Ah, eu entendo! Eles realmente são criaturas incríveis, não são? – disse. – Mas é como o meu pai fala: “é preciso conhecer bem o inimigo para poder derrota-lo”! E não tem ninguém nessa ilha que saiba mais sobre os dragões do que eu! Bem, a não ser você, Soluço.
– Heh, obrigado. – Soluço riu, jogando mais uma pedra. Ele ouviu o pequeno “splash” que fez lá em baixo.
Perna-de-peixe tinha toda a razão. Durante sua vida inteira, desde pequeno, Soluço estava tão acostumado a ser sempre o diferente, aquele moleque franzino que não conseguia erguer um machado ou um martelo. Haviam outros garotos e garotas em Berk que eram tão franzinos quanto ele, mas ainda assim, eles conseguiam ser melhores que ele em quase praticamente tudo.
Quase. Sim, todo mundo era melhor que Soluço em força bruta, não era preciso ser um gênio para saber disso. Mas no caso de inteligência, honestamente, havia poucas pessoas que podiam se comparar à Soluço.
Soluço era esperto, do tipo que pensava rápido, além de ter um bom jeito na criação de armas e de saber bastante sobre dragões.
Ele talvez nunca pudesse utilizar as mesmas armas que os outros vikings usavam, mas ele podia muito bem criar suas próprias armas.
Seus olhos brilharam com a revelação. Se Soluço criasse uma arma, se ele conseguisse pegar um dragão com ela… ele finalmente conseguiria deixar a sua marca, finalmente receberia o respeito que ele merecia como filho do chefe! Além de tirá-lo da sombra de sua irmã...
– Você acha que eu posso entrar pro treino também?
Perna-de-peixe encarou Soluço por um tempo, como se estivesse surpreso com a pergunta. Ele riu com um tom levemente nervoso, passando a mão na parte de trás da cabeça.
– Hum… eu não sei, Soluço… é só que… você não é realmente o viking mais forte de Berk, né…? Então eu não sei se daria pra você participar… – Soluço simplesmente assentiu, esperava aquela resposta. – Mas, quem sabe? – Perna-de-peixe se apressou em continuar. – Bem, a sua irmã e você são bem parecidos… talvez se você falasse com o seu pai de novo...
Mais uma vez sendo comparado com sua irmã, Soluço já estava acostumado com aquilo.
Muitas pessoas diziam que eles eram parecidos, mas honestamente os gêmeos não concordavam muito, os únicos gêmeos que eram quase um a cara do outro em Berk eram Cabeçadura e Cabeçaquente.
Sim, ambos tinham um porte menor, bem mais magro que muitos outros vikings, algo que ambos tinham ganho do lado da mãe. Mas Soluço tinha um rosto mais arredondado, como o de Stoico, enquanto Biscoito tinha o queixo pontudo e as bochechas longas de Valka. O garoto também tinha seus olhos verdes e cabelo marrom–avermelhado enquanto a garota tinha seus olhos azuis e cabelos vermelhos.
– Sim, sim, claro, nós somos parecidos. – Ele assentiu. Mas enquanto a irmã era mais forte, a força de Soluço estava em outro lugar. – Mas nem tanto assim... – E ele ia fazer proveito disso.
– o –
– Uh, Pai? Posso falar com você?
– Agora não, Soluço. Estou ocupado. – Stoico continuou examinando o mapa que tinha em cima da mesa.
– Tá legal, pai…, mas eu só queria perguntar uma coisa… – Soluço pressionou, recebendo um suave grunhido do pai, o que queria dizer que ele estava ouvindo, às vezes… – Tá… olha, pai, eu sei que você disse que ia pensar sobre isso, mas é que já se passaram alguns anos e, eu, bem… – Ele respirou fundo. – Pai, por favor, me deixa entrar pro treino com dragões!
Silêncio.
O chefe suspirou.
– Soluço…
– Por favor, pai! A Biscoito vai começar o treino oficialmente, assim como o Perna-de-peixe e… praticamente todo mundo! – Stoico ainda não tinha se voltado para seu filho. – Olha, eu sei que você tem bons motivos para me dizer não, mas, cá entre nós, você também tem bastante motivos para me permitir entrar no treino, não é?
– Não, Soluço. Você não está pronto.
– Então quando eu vou estar pronto?! Eu e a Biscoito temos a mesma idade, pelo amor de Thor! E ela já está enfrentando dragões! Se ela está pronta eu estou pronto, pai!
– Soluço! – disse Stoico com sua voz retumbante, fazendo o garoto se calar. – Eu já disse que não! Então é não! – Ele suspirou, passando uma mão pela barba grande e ruiva quando o garoto abaixou a cabeça. – Agora, por favor... eu tenho coisas a fazer.
– Tá bom, pai… – Soluço assentiu, caminhando lentamente para fora do Grande Salão.
Stoico o observou até as portas serem fechadas e então se voltou para o mapa que estava examinando minutos antes, mas não estava mais concentrado.
– Vamos lá, Stoico… – Bocão, que estava ali e ouviu toda a conversa entre pai e filho, se pronunciou finalmente. – O garoto sente que está preparado, por que não deixar ele tentar?
– Você sabe muito bem o porquê, Bocão. – O chefe balançou a cabeça. – Eu conheço os seus métodos de ensino, ele vai se machucar antes mesmo que você solte um dragão na arena!
– E como você pode ter certeza disso, Stoico? – retrucou Bocão, antes de terminar com: – Ei, e o que tem de errado com o modo como eu ensino?
– Como não teria? – Stoico soltou um suspiro pesado, ignorando a última pergunta. – É só olhar para ele, Bocão. Soluço… não é como os outros. Ele não é como… como nós…! – Ele balançou a cabeça, já longe demais para se importar com o que estava fazendo antes. – Pense bem, Bocão.
– Talvez ele tenha puxado mais a Valka…
– Mas pelo menos Valka sabe bem o que ela deve fazer! – retrucou Stoico, passando uma mão pelos olhos. – Soluço é… diferente! E eu não entendo o porquê. Desde menino eu sabia o que eu era e no que deveria me tornar. E eu consigo ver em Enguia, minha querida Enguia, que ela entende o mundo do mesmo jeito que eu entendo! Mas Soluço não é assim…
– Stoico, talvez a Enguia seja como você, mas Soluço, como você disse, não é! – disse Bocão sensatamente. – Mas se Soluço nunca foi como os outros, Stoico, então o mínimo que ele pode fazer agora é se preparar! Stoico, você conhece o Soluço, e eu o conheço bastante também! Ele é teimoso, mesmo que você diga não, Stoico, você não pode impedi-lo. No próximo ataque, você vai ver, ele vai sair e tentar fazer alguma coisa de novo... – Ele desviou o olhar, murmurando: – Provavelmente colocando sua própria vida e a de outros em perigo… – E se voltou para o amigo novamente. – O caso é… você não vai estar sempre perto para protegê-lo. Nem Valka, talvez nem Enguia! Então, na sombra de dúvidas, é melhor deixar o garoto tentar aprender a ser como nós!
Stoico ficou em silêncio após as palavras do ferreiro enquanto processava as informações. Bocão ficou quieto, esperando, mais focado na bebida que tomava deliberadamente.
– Nós… temos coisas mais importantes em que pensar no momento. – Com um suspiro, Stoico pôs um fim à conversa. – Podemos falar sobre isso mais tarde.
– Tá bem, você é que sabe. – Bocão deu de ombros, mas ele sabia que Stoico estava pensando sobre aquilo tudo.
–o –
Uma leve batida na soleira da porta chamou a atenção de Soluço que estava sentado em sua cama, pensando.
– Soluço? – chamou Valka da entrada do quarto. – Posso falar com você?
– Ah, claro, mãe. – Soluço se ajeitou na cama, dando espaço para a mãe se sentar ao seu lado.
– Você foi falar com seu pai de novo sobre o treino?
– Sim…
– Soluço… – Valka pousou uma mão no ombro do filho. – Não fique irritado com seu pai. Você sabe que ele só se preocupa com você.
– Eu sei, mas… Ugh, isso não é justo! – Soluço passou a mão pelos cabelos. – Por que a Biscoito pode participar do treino e eu não? É quase como se o pai gostasse mais dela do que de mim…
– Mas é claro que não. Seu pai, e eu, amamos vocês dois igualmente. Ele só reconhece que Biscoito sabe um pouco mais do manuseio de armas que você, só isso…
Soluço não respondeu, sem realmente acreditar no que ouvia.
Valka examinou o filho em silêncio, antes de desviar os olhos para algo em cima da cabeceira da cama desse, possivelmente já esquecido. Ela sorriu, pegando o brinquedo em forma de dragão com cuidado e o examinando em suas mãos, se lembrando de costurar as partes juntas.
– Eu lembro que você costumava ter medo de dragões… não sempre, mas teve. Mas agora… agora você vai atrás deles, você quer ir atrás deles. E eu sei porque está fazendo isso. – Soluço deixou que a pelúcia fosse colocada em suas mãos. – Você não precisa provar para ninguém que é capaz de matar um dragão ou não, Soluço. Não precisa fazer isso para mostrar aos outros do que você é capaz.
– É, mas quando todo mundo valoriza matar dragões acima de tudo… – retrucou Soluço, descansando o dragão de pelúcia em seu colo.
– Soluço, não importa o que o resto da tribo pensa de você. Você não precisa provar nada para ninguém. Nem para eles, nem para Stoico. – Soluço ergueu os olhos verdes ao ouvir o nome do pai. – O único para quem você precisa provar alguma coisa aqui é você. – Valka suspirou, sorrindo. – E está tudo bem se você quiser tentar combater dragões. Mas se você notar que esse não é o futuro certo para você, isso não é o fim do mundo. Há muito mais a se fazer além de combater dragões!
– Tipo o que…?
– Ah, tem tanto em que você é bom, Soluço! – Valka sorriu animadamente, tentando passar esse sentimento para seu filho. – Arquitetura! Você desenha tão bem! Ferreiro! Você já treina com Bocão há quantos anos?
– Mas, mãe, eu sou o filho do chefe! Eu devia… pelo menos… – Soluço suspirou, abaixando a cabeça. – Eu quero ser como ele…
– Ninguém disse que você precisa ser como Stoico, Soluço. Sim, ele pode ser um grande chefe. Mas você não é seu pai, você é Soluço. E será um grande chefe, do jeito Soluço!
– Isso se a Biscoito não acabar no lugar antes… – murmurou Soluço para si mesmo, mas pelo olhar de sua mãe, ela tinha ouvido. Ele desviou os olhos. – Mas eu posso… pelo menos tentar treinar com os outros então, não posso?
– Por mais que eu queira que fique em segurança… – Valka beijou a testa de Soluço suavemente. – Se você quiser, não vejo porque não. – O garoto sorriu, pelo menos com sua mãe ele podia conversar e realmente ser ouvido. – Só espero que se lembre dessa nossa conversa.
– Vou lembrar… – Soluço mordeu a língua enquanto sua mãe se afastava, se perguntando se devia falar ou não. – Mas, mãe… você pode falar com o pai… por favor? Ele normalmente escuta mais você…
Valka riu.
– Vou ver o que consigo fazer.
Depois que a mãe se foi, Soluço virou o brinquedo em suas mãos, encarando os olhos de botões do pequeno dragão de pelúcia. Ele colocou o brinquedo de volta no lugar de sempre, acima de sua cama, e pegou seu caderno e o lápis de carvão. Ele tinha alguns planos para botar no papel...
Disclaimer: A série Como Treinar o Seu Dragão e seus personagens pertencem à Dreamworks Animations, Dean DeBlois, Chris Sanders e Cressida Cowell. Essa é uma produção de fã para fã e sem fins lucrativos.
Todos os personagens aqui presentes possuem mais de 18 anos de idade.